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Ciência Comportamental e Eficiência Energética: os 7 mecanismos

É raro encontrar uma área em que as ciências humanas e exatas se complementam tanto quanto na área de eficiência energética. Apesar dos notáveis avanços na área tecnológica que permitem construir equipamentos e sistemas mais eficientes, a ciência comportamental humana muitas vezes é negligenciada.

Ciência comportamental
Psicologia CUBI Energia Eficiência Otimização

Quando o assunto é energia, estudos (e a prática) têm mostrado sistematicamente que nós nem sempre respondemos a incentivos de modo “racional” do ponto de vista econômico. Mesmo quando considerados os valores, cultura e conhecimento, estudos mostram que existem desvios comportamentais que influenciam a ação das pessoas. Por exemplo, mesmo quando existe um aparelho mais eficiente, que entrega o mesmo valor e com um investimento justificável, não tomamos a decisão por trocar um antigo. Ou, mais simples, mesmo sabendo que aquela lâmpada acesa em um cômodo vazio está desperdiçando energia, nem sempre levantamos para apagá-la.

Passado o desafio do conhecimento, ou seja, através de tecnologias de processamento de dados, o gestor já consegue enxergar energia, onde é consumida, em que período do dia e quais os setores mais intensivos. O próximo passo é incentivá-lo a atuar no sentido da melhor gestão, otimização de recursos e eficiência energética.

Com ajuda da literatura, especialistas e experiência própria, vamos listar a seguir os sete principais mecanismos pelos quais as pessoas não transformam informações em ações.

  1. Inércia: existe uma tendência universal de se manter tudo como está. Como o ditado; em time que está ganhando não se mexe. Existem, porém, gatilhos que podem neutralizar a inércia, como grandes eventos (mudanças, auditorias, demandas externas);
  2. Suficiente: essa é a força que se aplica às pessoas quando invocam a máxima “o bom é inimigo do ótimo”. Muitas vezes o ganho marginal para a otimização máxima frente a uma melhoria mediana não se justifica. Isso faz com sistema otimizados não sejam comuns.
  3. Aversão ao risco: tendemos a avaliar riscos com mais severidade que a oportunidade de ganhos. Embora isso possa ser traduzido em nossa hesitação em trocar um aparelho antigo e funcional, podemos usar isso a favor. Sabendo que valorizamos mais a perda do que ganhos, é mais eficiente que se elabore recomendações apontando as perdas e não potenciais ganhos. Por exemplo: “você está desperdiçando R$ 2.500,00/dia” ao invés de “você poderia economizar R$ 2.500,00/dia”.
  4. Sunkcosts: este efeito é aquele em que o ser humano tende a insistir em uma tecnologia em que ele já investiu muito tempo e dinheiro previamente. É muito comum ver isso no setor automotivo. Gastamos tanto na manutenção do carro que muitas vezes insistimos em ficar com ele mesmo sabendo que a probabilidade de ter um custo maior é alto.
  5. Desconto futuro: esse efeito faz com que, inconscientemente, valorizemos mais ganhos no presente em detrimento de ganhos futuros. Essa sensação vai além do que as taxas financeiras de desconto propõem. Muitas vezes eficiência energética exige investimentos iniciais grandes para se colher frutos durante um período de tempo dilatado. Instrumentos econômicos e até reconhecimentos imediatos são recomendados para superar esse desafio.
  6. Influência social: nós precisamos da aprovação social, precisamos ser aceitos e  gostamos, geralmente, de nos misturar. Por isso, mostrar que o comportamento de  boa gestão energética é um comportamento desejado, aceito e comum na sociedade pode fazer com que as pessoas tenham uma ação voltada àquele comportamento. Isso também é chamado de efeito manada, mesmo sem saber e entender completamente, a maioria tende a ter o mesmo comportamento socialmente aceito.
  7. Efeito carona: este efeito acontece quando um indivíduo tende a exercer menos esforço quando está em um grupo comparado a situação em que ele estivesse sozinho. Isso também desencoraja outros membros da comunidade a contribuir. Nesse ponto ganhos em eficiência energética devem ser construídos como uma comunidade mas evidenciando ganhos individuais, por isso o rateio de consumo entre diferentes áreas de uma indústria é importante.

O monitoramento energético é uma condição necessária mas não suficiente para que medidas de eficiência energética aconteçam. Entender como funcionam os gatilhos que levam a decisões mais racionais é parte indispensável para alavancar o setor de eficiência energética como um todo.

Ricardo Dias

Engenheiro ambiental e urbano pela UFABC e mestre em Sistemas Sustentáveis com ênfase em Energia pelo Rochester Institute of Technology. É co-fundador da CUBi e atualmente CEO.

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