Algo que é comum a todas as unidades de consumo de energia elétrica no país é o enquadramento tarifário. Seja atendida em alta tensão ou em baixa tensão, as unidades consumidoras possuem um regime de tarifação característico, ou seja, uma forma de alinhar o perfil de consumo de uma empresa com as opções de políticas de tarifação pré definidas e reguladas pela ANEEL. Se você não sabe como avaliar seu enquadramento tarifário em unidades do Grupo A, continue lendo.
Fazendo aquela revisão rápida, no Brasil nós separamos as unidades em dois grupos tarifários: o grupo A (aqueles atendidos em média e alta tensão), que geralmente são as empresas, fábricas, indústrias, etc e o grupo B (os que recebem energia elétrica em baixa tensão) que são as residências, pequenas empresas e comércios, casas rurais, entre outros.
Dentro desses dois grupos tarifários, nós temos as modalidades tarifárias, que são modelos de tarifação diferentes para cada perfil de consumo, ou seja, para cada particularidade das quantidades e horários em que o consumo é realizado. Para as unidades do grupo B, temos as modalidades tarifárias convencional e horária branca. Já para as unidades do grupo A, temos as modalidades tarifárias horárias azul e verde.
No entanto, um ponto a ser discutido é o nível de controle sobre o enquadramento tarifário. Aqui no Brasil ainda é muito baixo, uma vez que temos poucas opções de enquadramento tarifário e baixo controle, principalmente para aqueles que se encontram na contratação regulada. Sendo assim, surge uma necessidade de avaliar corretamente a modalidade escolhida.
Primeiramente, para avaliar o enquadramento tarifário de uma unidade consumidora é necessário entender o perfil de consumo (de energia e potência ativa) característico da operação e assim simular qual modelo de tarifação é o mais econômico para a sua unidade em específico.
A ideia não é falar muito sobre o enquadramento tarifário em si, uma vez que temos aqui no blog da CUBi um artigo focado somente em entender o enquadramento tarifário e sua metodologia de cálculo, e sim focar em o que fazer para realizar o estudo do enquadramento tarifário.
Enquadramento tarifário no grupo B
Para as unidades consumidoras atendidas em baixa tensão, temos duas opções de enquadramento tarifário: convencional, onde se tem apenas uma tarifa aplicada sobre todo o consumo em kWh realizado durante o período ou a modalidade tarifária horária branca, em que a tarifa se altera conforme a hora do dia, separado em horário fora ponta (tarifa mais barata), horário intermediário (tarifa com um valor um pouco mais alto) e o horário de ponta em que a tarifa cobrada está no mais alto patamar. Para saber mais sobre tarifa branca indico um artigo que temos no blog, você pode conferir clicando aqui.
Já para avaliarmos o enquadramento tarifário, temos uma grande dificuldade. Como a grande maioria das unidades são convencionais, dificilmente temos unidades consumidoras do grupo B que façam a diferenciação horária do consumo, ou seja, que separam o consumo realizado entre diferentes postos tarifários conforme a hora medida. Dessa forma, o que grande parte dos consumidores fazem é uma migração tarifária no ‘achismo’, apenas por pensar gastar menos nos horários intermediário e de ponta, já realizam a troca de tarifa.

Porém essa é uma forma sem precisão e baixo nível de confiabilidade, o que pode gerar custos ao invés de economia ao consumidor. A melhor forma de avaliar com exatidão o enquadramento tarifário nesses casos é instalar uma telemetria, podendo ser um medidor de entrada (ou medidor de fronteira) que já é capaz de separar o consumo em horários diferentes.
Assim, com esse consumo horário seremos capazes de monitorar e calcular o enquadramento tarifário ótimo da unidade consumidora, bem como se ela tem oportunidades em migrar para o grupo A, entre outros.
Enquadramento tarifário no grupo A
No grupo A, o que deve ser levado em consideração na hora de escolher o enquadramento tarifário são basicamente dois aspectos:
- O primeiro deles é físico, que é a tensão de conexão das unidades. Se essa tensão for maior ou igual a 69 kV, essa unidade estará, obrigatoriamente, na modalidade azul (volte ao artigo mencionado para entender mais). Para as unidades com tensão de conexão abaixo dos 69 kV, estas poderão escolher entre as modalidades azul ou verde.
- O segundo aspecto é a intensidade horária, ou seja, a potência máxima e o consumo realizado para cada hora do dia, principalmente para as três horas consecutivas onde a tarifa é bem mais ‘salgada’: o horário de ponta.
Mas, como eu sei em qual modalidade tarifária a unidade consumidora se encontra? Essa é uma informação que deve ser fornecida, obrigatoriamente, pela distribuidora, logo ela estará na sua fatura, no seu contrato com a distribuidora e provavelmente até na sua agência virtual.
A modalidade tarifária também pode ser percebida através do modelo de tarifação, uma vez que verde é tarifado no consumo de forma horária (separado em ponta e fora ponta), porém na demanda única (a mais alta medida entre o horário de ponta e fora ponta), enquanto azul, tanto demanda quanto consumo são tarifados com diferenciação horária (ponta e fora ponta).

Agora é hora de colocar a mão na massa!
Abra sua planilha de Excel e vem comigo seguir esse passo a passo para avaliar o enquadramento tarifário da sua unidade de grupo A:

- Identificar o enquadramento atual e as informações da unidade:
- Qual a tensão de conexão? Lembrando que somente tensões abaixo de 69 kV poderão realizar a migração tarifária.
- Qual a quantidade de consumo (kWh) no horário de ponta?
- Qual a demanda de potência máxima (kW) medida no horário de ponta?
- Qual a quantidade de consumo (kWh) no horário fora da ponta?
- Qual a demanda de potência máxima (kW) medida no horário de ponta?
- Identificar quais são as tarifas para cada modalidade tarifária:
- Através do site da ANEEL, ou até mesmo do site da própria distribuidora você poderá conferir quais são as tarifas homologadas pela ANEEL para a classe da sua unidade consumidora. Anote essas tarifas para azul e verde.
- Planilhar os dados de consumo:
- Com as informações dos itens anteriores agora é hora de colocar na planilha todos esses dados. Caso você tenha uma tensão de conexão abaixo de 69 kV, você pode se alterar entre azul e verde. Agora basta colocar os dados de consumo ponta e fora ponta e demanda ponta e fora ponta que foram medidos na unidade.
- Recomendamos no mínimo os últimos 6 meses e no máximo os últimos 12 meses, para termos uma indicação recente mas não esporádica do perfil de consumo da sua unidade. Esse número depende muito da operação da unidade consumidora, se for uma operação que pode se alterar muito nos 6 primeiros meses para os outros 6 meses (muito comum em agroindústria, por exemplo), esse cálculo deve ser feito com 12 meses. Já para unidades como indústria, que geralmente tem uma operação muito comum que não muda muito durante os semestres, poderá ser feito com 6 meses.
- Simular o consumo realizado para as tarifas azul e verde:
Agora é hora da mão na massa! O que queremos fazer é basicamente simular a fatura no verde e no azul de forma paralela. Assim veremos a modalidade tarifária atual e podemos comparar lado a lado quanto seria pago se a unidade tivesse alterado a modalidade tarifária. Caso exista uma diferença negativa que seja significante (o que depende de cada caso, internamente consideramos acima de 5% do valor mensal da fatura), podemos solicitar a troca da modalidade tarifária para a distribuidora. No fim das contas o que queremos fazer é algo semelhante à tabela abaixo:

5. Solicitar alteração de modalidade tarifária:
- Cada distribuidora tem seu próprio processo para solicitar a alteração de enquadramento tarifário. O que você estará realizando na realidade é uma solicitação de um aditivo ao CUSD (contrato de uso de sistema de distribuição), nele tem as informações do seu contrato com a distribuidora para o fornecimento de energia elétrica e nele tem várias informações, dentre elas a modalidade tarifária.
Procure sua distribuidora e entenda como essa solicitação deverá ser feita, geralmente é realizada por e-mail ou diretamente na agência virtual. A distribuidora irá pedir alguns documentos juntamente com a solicitação por escrito e, em até 30 dias, a sua migração tarifária estará completa.
6. Acompanhar continuamente:
- Escolher a demanda contratada: ao alterar sua opção de modalidade tarifária você poderá alterar também a sua demanda contratada. Para isso o importante é calcular qual seria a ótima demanda que traria o menor valor pago num período de 12 meses.
- Depois da migração tarifária, é importante acompanhar a unidade consumidora e verificar se o perfil de consumo continua se encaixando na modalidade tarifária escolhida. Dessa forma você poderá ter certeza de que está no enquadramento mais adequado e poderá tomar ações quando se desviar dele.
Aqui foram descritos o passo a passo e as informações necessárias para realizar a avaliação do enquadramento tarifário, mas nem sempre isso será um processo fácil. Algumas dificuldades poderão ser encontradas, como a falta de informações na fatura.
É muito comum algumas faturas não possuírem informações importantes como a demanda medida em ponta e fora ponta, uma vez que algumas distribuidoras colocam no descritivo somente a demanda faturada e não a demanda medida. Outra dificuldade é a questão de empresas que possuem muitas unidades, o que dificulta a recepção, extração e cálculo dessas oportunidades de economia, e é aqui que entra a importância de uma ferramenta capaz de realizar todas essas atividades automaticamente.
Com nossa plataforma de gestão de energia, o CUBi KiP, você é capaz de acompanhar o enquadramento tarifário de todas as suas unidades consumidoras num só lugar. Nosso sistema é capaz de coletar todas as faturas de energia automaticamente no site das distribuidoras, processar e equalizar as informações dessas faturas e ainda calcular automaticamente as oportunidades de migração tarifária (entre outras) para cada uma dessas unidades, indicando qual a modalidade tarifária recomendada para a unidade e qual seria a economia mensal média após a alteração.
Q&A
- Por que avaliar meu enquadramento tarifário?
- A avaliação periódica de enquadramento tarifário pode gerar uma economia substancial e com poucos recursos investidos (você realiza um cálculo e solicita para a distribuidora, que é obrigada a alterar sua modalidade tarifária de forma gratuita).
- Com que frequência preciso avaliar meu enquadramento tarifário?
- É importante que a avaliação do enquadramento tarifário seja realizada de maneira periódica e contínua. Deverá ser feito principalmente quando for realizadas alterações na unidade consumidora, como aumento de carga, alteração de demanda contratada ou alteração nos horários de trabalho da unidade, sendo esse último de maior impacto no enquadramento correto.
- Qual o processo para alteração do enquadramento tarifário?
- Cada distribuidora tem seus processos específicos para realização de alteração de enquadramento tarifário. Geralmente o atendimento de gestão de clientes da distribuidora estará responsável em atender os clientes que solicitem a alteração do enquadramento tarifário. Na maioria das vezes pode ser solicitado e formalizado por e-mail ou pela própria agência virtual da distribuidora. Assim você indica que deseja mudar o seu enquadramento tarifário atual e envia em anexo os documentos necessários para que a alteração seja realizada.
- Qual valor pago para realizar a alteração de modalidade tarifária?
- Zero. A distribuidora é obrigada a realizar sua mudança de modalidade tarifária de forma gratuita, quando solicitada dentro das regras estabelecidas pela REN 1000/2021.
- Com que frequência posso realizar a migração de modalidade tarifária?
- O enquadramento tarifário segue algumas regras com relação à frequência de alteração, ditadas pela REN 1000/2021, o cliente poderá alterar o enquadramento tarifário num período de 12 meses sobre solicitação, ou caso ocorra alguma alteração na sua unidade (e consequentemente no seu contrato com a distribuidora), como aumento de demanda, troca de tensão de conexão, e etc. Ou seja, uma vez alterado, só poderá realizar novamente com 12 meses.
Eai, agora você já sabe como calcular o seu enquadramento tarifário? Se você gostou do conteúdo e quer aprender mais sobre gestão de energia, para você se tornar aquele(a) profissional que se destaca no setor, acesse o Blog da CUBi.