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Eletropaulo / A Light / AES Eletropaulo | Quem vai levar?

A Eletropaulo figurou nas matérias de todas as seções de energia e negócios no primeiro semestre de 2018. A atenção dada à possível saída da AES como acionista da empresa tomou proporções muito maiores do que todo mundo podia imaginar.

Vamos voltar um pouco e falar sobre a história da empresa que hoje distribui energia na capital paulista e arredores.

A Eletropaulo já passou por diversas fases em sua existência. Ela tem suas raízes lá atrás, na Light São Paulo – São Paulo Tramway, Light and Power Company de 1899 quando uma empresa privada canadense era responsável pelos serviços de energia elétrica em São Paulo capital e arredores. Desde então, já aconteceu muita coisa, ela já foi parar na mão do Governo Federal e logo em seguida – em 1981 – no Governo do Estado de São Paulo. Ficou por aí até ser privatizada  em 1999 e adquirida por um consórcio com vários grandes nomes, um deles a AES, passando então a chamar AES Eletropaulo. O nome nunca colou, e não é raro ver pessoas com mais de 50 anos ainda chamando a companhia de Light e os mais jovens se referindo apenas como Eletropaulo. A dificuldade de adoção do nome foi tanta que no final de 2017 a companhia simplesmente desistiu e adotou apenas o nome Eletropaulo e parou de tentar forçar um nome que aparentemente nunca iria pegar. Possível sorriso aqui de Paulo Maluf que era o governador da época e algumas fontes apontam como a origem do novo nome (eletroPAULO) dado à empresa, mesmo enquanto suas iguais em outros lugares, como o Rio, continuaram se chamando Light.

Pois chegou então a hora das coisas mudarem novamente. Mesmo tendo patinado com o processo de nomear e desnomear a empresa, a AES parece ter acertado o momento de declarar suas intenções de vender sua participação. Nos últimos meses do primeiro semestre de 2018, vimos uma batalha entre gigantes para tentar assumir o controle da companhia. A espanhola Iberdrola (a Neoenergia é sua unidade local) e a italiana estatal Enel entraram em uma disputa acirrada. Ambas já possuíam negócios e consumidores no Brasil e o controle da Eletropaulo faria com que uma das duas assumisse a liderança de forma bastante forte no mercado, praticamente duplicando a quantidade de energia que distribuem.

Se você não sabe como o mercado de energia funciona no Brasil, sugiro dar uma olhada AQUI.

Voltando uns meses

Tudo começou em março quando a ENEL (empresa italiana) fez uma oferta não divulgada pela fração acionária que a AES controla, cerca de 16.84% (parece pouco, mas a Eletropaulo tem um capital bastante pulverizado na mão de diversos investidores, sendo que 49% está na mão de pequenos investidores). Em seguida entraram na briga a brasileira Energisa e também a Neoenergia (da espanhola Iberdrola). Quando os valores começaram a subir, a brasileira pulou fora. Sobraram a Enel e a Neoenergia, ambas preparadas para botar a mão fundo no bolso. A batalha foi acirrada e quem se beneficiou nessa história foi a própria eletropaulo que viu seu valor de mercado aumentar em grandes proporções (quase dobrou em 2 meses), passando de R$ 2,88 bilhões em 1º março para R$ 5,61 bilhões no dia 22 de maio.

E o que explicou essa briga?

A eletropaulo é responsável pela distribuição de energia elétrica na cidade de São Paulo e arredores, uma zona bastante densa, o que significa menos investimentos em infra estrutura para atender o mesmo número de pessoas do que quando falamos de zonas menos povoadas. Mas mais do que isso, a quantidade de energia que a Eletropaulo distribui é o suficiente para dobrar o tamanho atual das empresas que queriam comprá-la e isso faria com que uma das duas se torne a empresa que mais distribui energia no Brasil, e isso não é pouca coisa.

E o que vai acontecer?

A briga nos valores gerou bastante confusão, desde o pessoal da Neoenergia apresentando carta formal da diretoria reclamando da possível “vantagem” que a Enel levava no negócio, já que é uma empresa estatal. Por aqui, a Justiça também deu seus pitacos, mas o leilão seguiu marcado para o dia 4 de junho de 2018. Alguns diziam que os valores já estavam altos demais para o investimentos valer a pena financeiramente.

*Atualizado em 8 de Junho – pós leilão*

No final da briga quem levou foi a italiana ENEL que não teve dó em pagar R$ 45,22 por ação da companhia enquanto os espanhóis ofereceram “meros” R$ 39,53 por ação. O “meros” entre aspas foi proposital, já que no início de março de 2018, os papéis estavam sendo negociados a aproximadamente R$ 17. No final das contas a ENEL fechou a compra de mais de 73% das ações da Eletropaulo, o que significou algo em torno de R$ 5,55 bilhões (acho que ter 65 milhões de clientes mundo fora ajuda na hora de juntar dinheiro). Além da AES que embolsou pouco mais de R$ 1 bilhão, destaque para o BNDES que saiu com R$ 1,5 bilhão e a União com R$ 800 milhões. Mas quem deve ter ficado feliz de verdade foram os investidores menores que viram seu dinheirinho se multiplicando rapidamente nos meses da batalha de lances.

Por fim, a italiana ENEL superou a CPFL (dos chineses da State Grid) e passou a ser a maior distribuidora de energia do Brasil.

Rafael Turella

Engenheiro ambiental pela UNESP e mestre em Sistemas Sustentáveis com ênfase em Energia pelo Rochester Institute of Technology. É co-fundador da CUBi e atualmente responsável pela área de marketing e vendas.

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