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Entrevista: Gestão Energética e sua importância para a Indústria

No início de 2020, um de nossos fundadores, o Rafael Turella, foi convidado para dar uma entrevista para o portal “A Voz da Indústria” para comentar sobre a importância da Gestão Energética no meio industrial. Como o conteúdo ficou interessante, resolvemos compartilhar o texto na íntegra por aqui.

1 – A gestão energética é importante para o êxito de uma indústria? Explique?

A gestão energética é extremamente importante para o sucesso da indústria, quer o gestor saiba disso ou não. A energia é necessária em todos os tipos de processos produtivos, independente do produto que a empresa trabalhe, então todo tipo de indústria se encaixa nesta situação.

Muitos gestores não tomam a energia, principalmente a elétrica, como um insumo de produção, o que é um erro já que no final do dia cada unidade de produto fabricada teve um valor específico em energia e esse custo sairá do bolso da empresa. Em algumas indústrias o cuidado é maior por conta da grande representatividade da conta de energia. O setor de plásticos é um ótimo exemplo. Aqui na CUBi já trabalhamos com clientes que pagam mais na conta de energia mensal do que na folha de pagamento.

Por ser um insumo tão importante e que impacta nos custos de produção diretamente, a gestão energética é uma ferramenta concreta para manter o insumo sobre controle e buscar mais competitividade no mercado. Com os custos da energia subindo acima da inflação nos últimos anos, as empresas que investem tempo em gerir seu consumo energético acabam por vencer a corrida em comparação a outras que muitas vezes nem identificaram isso como um problema.

O insumo energético mal gerido pode se tornar o fator limitante no crescimento ou sobrevivência de uma indústria, principalmente pelo fato de que algum concorrente no mercado estará transformando esse problema tão comum em oportunidades de crescimento.

 

2 – Quais os benefícios para a indústria de uma correta gestão energética?

Como a energia é um insumo produtivo que reflete na competitividade, gestores que conhecem seus processos produtivos mais à fundo e possuem ferramentas para acompanhar a melhora/piora desses indicadores conseguem atuar sobre problemas que ocasionam em perdas de dinheiro.

Uma correta gestão de energia traz tanto o controle dos consumos e gastos energéticos como também as indicações de onde estão os potenciais problemas que podem ser atacados. Com informações e conhecimento real em mãos, gestores podem então procurar alternativas tecnológicas ou de processos para eficientizar suas empresas. Ter dados em mãos facilita a tomada de decisão e cálculos de retorno de investimento nas ações que serão realizadas. É um maneira excelente de fugir dos famosos: “Eu acho que..” ou “Sempre foi assim..”, frases muito comuns em empresas que ainda não realizam qualquer tipo de gestão energética e estão deixando dinheiro na mesa há muito tempo.   

Além de todo os aspectos financeiros diretos que são explorados ao se gerir energia de maneira organizada, existe toda uma camada de vantagens ligadas à gestão dos processos. Quem possui informações está muito mais propenso a modificar processos e saber os impactos de produtividade que virão, ou até mesmo já se planejar para uma mudança de linha de produtos.

Um bom exemplo para exemplificar a situação: Nos últimos anos, chegamos a ver aumentos anuais em algumas distribuidoras na casa dos 20%. Imaginem o impacto desta virada de chave no mercado industrial, onde um insumo tão transversal fica subitamente 20% mais caro em relação ao mês anterior. Quem tem a maior chance de se manter competitivo? O gestor industrial que apenas paga a conta de energia todo mês como um boleto e nem viu o aumento chegando ou um segundo que já estava preparado para este aumento desde que fora anunciado e já tem na manga opções para se adequar a esta nova realidade.

 

3 – Que conselho você daria para a indústria que não aplica uma gestão de energia e quer começar a implantá-la? Por onde deve-se começar?

Existem diversos níveis de gestão energética e sempre recomendamos que as empresas implementem aos poucos esse tipo de prática. Passos incrementais conforme os gestores vão aprendendo são muito mais efetivos do que tentar implementar algo grande que ninguém irá aderir e o projeto acabará morrendo na praia.

Para indústrias que ainda não fazem nada, o primeiro passo é ler um pouco sobre o tema, se ambientar no tipo de oportunidades que existem. Existem diversos materiais online e gratuitos que abordam a temática a fundo. Muitos gestores ao terem contato com esses materiais já conseguem enxergar suas próprias empresas nos exemplos dados e passam ter uma visão diferente, mais atenta e crítica. Talvez alguém já tenha se enxergado no exemplo que dei acima.

O seguinte passo, bastante simples e prático é conseguir ajuda para avaliar as faturas de energia da empresa. Mesmo que a maioria das empresas utilize as faturas apenas como instrumentos contábeis, elas muitas vezes trazem informações ricas sobre a saúde energética da empresa, mesmo que de maneira “macro”, é um ótimo lugar para começar. Em alguns casos, as faturas já apresentam grandes potenciais de oportunidades de economia. Aqui na CUBi não é incomum encontrarmos mais de 10% de potencial de economia na conta, apenas por ações derivadas de simples análise de contas de energia. Avaliar contas de energia também é um ótimo começo para entender um pouco mais sobre como a energia é cobrada, o que não é tarefa simples aqui no Brasil.

Depois de resolvidas estas questões que olham para a empresa como um todo e a fatura de energia não apresentar mais oportunidades, daí sim é hora de se olhar para “dentro de casa”, para tudo aquilo que é efetivamente consumido após o medidor da concessionária de energia. Aqui a complexidade deve ir aumentando aos poucos. Primeiro é possível dividir e monitorar/acompanhar a empresa em suas principais áreas e ir progredindo até que seja possível ter uma visão já no nível de máquina a máquina.

O importante é ressaltar que existem diversas oportunidades de melhoria provindas de uma correta gestão e elas estão em todos os níveis da empresa. Elas podem existir na maneira como a energia é contratada e utilizada por toda a empresa, podem existir na escala de quais turnos ou processos acontecem em determinados horários do dia, podem acontecer segundo a idade do maquinário instalado ou até mesmo por conta do ciclo de manutenções ou no treinamento de cada colaborador. Num mundo de oportunidades tão distintas como esse, a gestão de energia é ferramenta imprescindível para identificar, quantificar e priorizar o que deve ser feito, de que forma e quando, e lógico, para medir os resultados obtidos e seguir aumentando a competitividade da indústria.

Rafael Turella

Engenheiro ambiental pela UNESP e mestre em Sistemas Sustentáveis com ênfase em Energia pelo Rochester Institute of Technology. É co-fundador da CUBi e atualmente responsável pela área de marketing e vendas.

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