Uma das melhores formas de entender um problema é reproduzi-lo em escala controlada e leva-lo a limites extremos. No caso do consumo de recursos, não há necessidade de recriar um ambiente miniaturizado para estudar. Esses ambientes já existem no mundo real.
Imagine um cenário em que para todos os lados que você olhe exista água preenchendo a linha do horizonte. A complexidade logística para transpor essa barreira é alta e você tem que lidar com os recursos que tem à mão. Esse é o cenário de um navio transoceânico e ilhas remotas.
Nesses casos a questão da racionalização do consumo de recursos – notadamente energia – é fundamental para a sobrevivência e as soluções implementadas nessas situações são referências no desenvolvimento na gestão de recursos. Em ambos os casos a estratégia implementada tem sido consistente e efetiva: o primeiro passo é desenvolver mecanismos e protocolos de gestão da energia. Essa etapa tem o objetivo de esterilizar o ambiente de desperdícios e desenvolver metodologias para, continuamente, otimizar o uso desse recurso. O segundo passo é prospectar a melhor forma de gerar energia através de um sistema com elevado nível de confiabilidade. Para muitos casos isso se traduz em um sistema híbrido entre fontes renováveis e fontes não renováveis.
Sabendo do desafio singular da gestão de recursos em navios, desde 2013 o International Maritime Organization (IMO) torna obrigatório para navios de grande porte (acima de 400 toneladas) a implementação de um Ship Energy Efficiency Management Plan com o objetivo de regular o setor e nivelar boas práticas. Nesse documento, deve-se obrigatoriamente implementar correlações entre métricas de consumo energético e práticas técnicas, como rotas mais eficientes, otimização de velocidade, protocolos de comunicação com outros navios e até horários de navegação.
No caso das ilhas, a gestão energética não só afeta a sobrevivência mas também no acesso à qualidade de vida e desenvolvimento local. Em muitos casos as ilhas remotas não tem poder político nem econômico, o que restringe o investimento de capital humano e recursos financeiros para que a sociedade tenha acesso a energia e torne-se eficiente em seu uso. Onde há energia, na maioria dos casos a fonte principal é o diesel importado que alimenta pequenos geradores locais. Essa lógica faz com que energia elétrica tenha um preço elevado. Quando essa elevação é moderada, ela incentiva a otimização de processos; em casos extremos, a energia exclui parte da sociedade do desenvolvimento local.
Por exemplo a ilha de Guam, importante base militar Norte Americana no Pacífico, tem 99% da sua matriz energética baseada em óleo combustível importado e apresenta custo de energia elétrica 62% maior do que a média dos Estados Unidos (em outras ilhas do pacífico esse percentual chega a 270%, caso da ilha de Palau). O cenário tem mudado com investimentos como o do Banco ADB que em seu programa Energy Efficiency in the Pacific, Phase 2 evitou o consumo de 3.400 MWh de energia no ano de 2016 em ilhas do Pacífico, provando oportunidades inexploradas com baixo investimento e alto retorno.
Com casos como os apresentados, que levaram a problemática da disponibilidade e consumo de energia ao extremo, aprendemos que a gestão de energia é uma questão sobretudo de sobrevivência. A energia pode ser um fator limitante para o desenvolvimento de uma ilha, para o avanço de um navio, para o progresso de uma nação e também para a competitividade da sua indústria.
Oceano Azul para Eficiência Energética
Mais sobre sistemas de gestão de energia elétrica, AQUI.
Fontes:
https://www.nrel.gov/docs/fy15osti/64290.pdf
https://www.adb.org/sites/default/files/institutional-document/184675/pacific-energy-update-2016.pdf