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Como economizar energia elétrica na industria?

Essa pergunta é muito comum entre donos de pequenas e médias indústrias ou gestores das de grande porte. Fica claro que normalmente ela é feita pela pessoa que é responsável por pagar o insumo ou por fechar as contas no final do mês. São essas pessoas que enxergam o quão grande pode ser a contribuição no orçamento total da energia elétrica na indústria, e muitas delas estão sempre buscando soluções para aliviar custos.

Para essas pessoas (e talvez você seja uma delas), a energia elétrica está sempre no topo dos gastos. Dependendo do ramo da indústria, a conta de energia é o terceiro ou até o segundo maior gasto mensal. Algumas vezes superam até o gasto com a folha de pagamento.

As opções para abordar esse problema são muitas. Nós sempre falamos da gestão de energia como sendo uma das melhores soluções contra o desperdício. Mas vamos assumir aqui que você ainda não foi convencido a estabelecer algum controle sobre seu consumo energético, mas ainda assim quer saber quais são as áreas que merecem uma boa avaliação porque a chance de existirem oportunidades são grandes. Ou mesmo já está pensando em um sistema de gerir seu consumo, mas não sabe para quais áreas olhar com atenção. A seguir vamos falar brevemente de oportunidades em Iluminação, Refrigeração, HVAC(aquecimento, ventilação e ar condicionado), Ar comprimido, Motores Elétricos e alguns aspectos gerais.

Iluminação

Essa é provavelmente a área que mais recebe projetos de eficiência energética e melhorias dentro da indústria hoje. Isso acontece por algumas razões:

  • O avanço das tecnologias de LED; o mercado de LED já passou por um boom bastante grande no últimos anos, as tecnologias avançaram e diversos fabricantes surgiram no mercado nacional e internacional, fazendo com que o preço caísse bastante. Isso não quer dizer que todos os produtos são de qualidade e cumprem o que prometem.
  • Junto com o boom de produtos, tivemos um aumento expressivo de empresas que oferecem serviços de retrofit de lâmpadas.
  • Os projetos de retrofit de lâmpadas são em sua maioria mais simples do que as categorias que veremos a seguir, e portanto, é mais fácil calcular os ganhos associados à implementação e quanto tempo irá ser necessário para o investimento se pagar.
  • Resultados do projeto são imediatos; assim que as lâmpadas são trocadas é possível perceber impacto nas contas de energia (salvo em situações em que o gasto com iluminação é irrisório quando em comparação com o restante da planta industrial).
  • Se sua empresa ainda não praticou nenhuma ação em prol de ser mais eficiente energeticamente, a iluminação é um caminho simples a se seguir, com resultados reais, mas dificilmente é onde irá se derivar grandes impactos na conta energia.
  • Um lembrete aqui é a atenção por parte dos produtos utilizados. Produtos de má qualidade podem não só não trazer resultado, mas até piorar a situação. Por exemplo, no passado alguns testes revelaram que algumas lâmpadas LED operavam com o Fator de Potência em torno de 0.5, trazendo aumento de problemas com energia reativa nas plantas.
  • Nós já falamos um pouco da evolução das lâmpadas, AQUI, nesse post.

 

Refrigeração

A refrigeração pode receber uma vasta gama de melhorias dependendo do tipo de sistema em questão, variando entre pequenos investimentos em gestão até grandes investimentos em tecnologia. Alguns exemplos do que pode ser feito:

  • A manutenção é provavelmente o item mais negligenciado da lista. Uma bom plano de manutenção para todos os componentes do sistema, desde as vedações até a limpeza dos condensadores e evaporadores não só mantém a eficiência no consumo, como também aumenta a vida útil do equipamento. É um dos itens mais fáceis de ser atacado pois as empresas já possuem pessoal treinado ou rotinas de manutenção, basta traçar um plano corretamente e seguí-lo sempre. A medição, avaliação e melhoria do plano de manutenção também é sempre uma boa prática. Por mais que seja algo óbvio e conhecido, sabemos que toda planta industrial passa por inúmeros problemas durante seu funcionamento diário, então é bastante fácil as equipes gastarem mais tempo resolvendo problemas pontuais do que investindo tempo em manutenção preditiva.
  • Outro item muitas vezes negligenciado é o mau uso de informações que os fabricantes entregam. O degelo periódico informado pelo fabricante, por exemplo, é algo que pode evitar o consumo excessivo e evitar danos ao evaporador e até mesmo aos compressores.
  • Escolha/projete a temperatura da câmara da maneira correta. Um único grau a mais na temperatura configurada dos equipamentos pode significar um grande impacto em seu consumo.

 

HVAC (Aquecimento, ventilação e ar condicionado)

Um vilão muito mais famoso quando estamos falando de edificações em geral e não só na indústria. Uma das maiores dificuldades de se atacar os sistemas de climatização é que uma grande parcela de oportunidade recai em aspectos estruturais do local. Exemplos para se trabalhar na economia:

  • Seguir as mesmas orientações descritas na parte de refrigeração; manutenção preditiva constante e de qualidade, seguir informações propostas pelos fabricantes e fazer o setup correto. Por exemplo, aqui na CUBi já vimos casos de edificações que ao alterar apenas 1°C em seu setup (seguindo pedido de maior conforto por parte dos usuários), alcançou reduções de quase 12% em seu consumo de energia em HVAC.
  • Avaliar o posicionamento ideal de condensadoras, tanto para evitar o seu abafamento, como também para protegê-las da incidência solar ou de outras fontes de calor.
  • Equipamentos com longa vida útil normalmente possuem seu custo de operação durante todo o período maior do que o preço de aquisição, então na hora de realizar trocas ou melhorias, utilize o critério eficiência energética com atenção.
  • Sistemas de gerenciamento de energia específicos para automação podem ser de grande ajuda e impacto, porém, sempre avalie muito bem o projeto, não só pensando na tecnologia, mas também em suas operações e mão de obra disponível e capacitada. Não é incomum empresas possuírem um sistema de gestão/automação instalado mas não saberem tirar proveito real da ferramenta, seja por falta de tempo, mão de obra, conhecimento e outros.

 

Ar Comprimido

Já fizemos um post específico só para eficiência energética em sistemas de ar comprimido, e você pode fazer a leitura, clicando AQUI. Mesmo assim, pela importância do ar comprimido em sistemas industriais (e seu consumo energético) trazemos um pouco de informação sobre o tema. Algumas ações que podem ser feitas:

  • Vazamentos podem significar em média 20% a 30% de perdas em um sistema de ar comprimido. Sem manutenção preventiva adequada, esse número pode ser ainda maior. Execute inspeções regulares e garanta a manutenção das linhas.
  • Avalie e execute um dimensionamento correto da carga necessária para o funcionamento da empresa e do sistema. Um único bar de pressão em excesso pode significar até  7% do consumo total.
  • Manutenção preventiva sempre em dia.
  • Faça o registro de todas as informações importantes sobre manutenções e reparos no sistema. Esses dados são importantes para embasar projetos futuros na avaliação das áreas que com certeza são mais críticas que outras.
  • Se a planta é antiga e seus equipamentos também, avalie o modelo, dimensionamento e possibilidade realizar trocas. Compressores custam muito mais em energia durante sua operação do que o valor inicial de aquisição. Em um horizonte de 10 anos, o custo de aquisição fica em torno de 10% do valor total gasto com o equipamento.

 

Motores Elétricos

De todas as anteriores, essa é a categoria que em média responde pelo maior consumo de energia elétrica na indústria. No Brasil, estamos falando que algo em torno de 68% de toda a energia elétrica consumida na Indústria vai para motores. As ações:

  • Muitas são semelhantes às anteriores; manutenção preditiva é um bom exemplo.
  • Correto dimensionamento é importante. Motores superdimensionados para uma operação podem facilmente significar até 30% de desperdício.
  • Dê preferência à correias sincronizadas ao invés de correias em V.
  • Sistemas de velocidade variável podem significar grandes ganhos. Vamos falar um pouco mais desses sistemas na seção “Geral” à seguir, pois eles se aplicam à vários destes itens.
  • Mesmo como prática bastante comum na indústria, evite rebobinar ou recondicionar motores antigos, sua eficiência vai caindo com o passar do tempo (lembrando que temos uma elevada idade média no parque industrial nacional, algo em torno de 20 anos).
  • Igual outros equipamentos já citados acima, seja criterioso na escolha de um novo equipamento. Motores premium e de alto rendimento são mais caros, mas podem valer a pena financeiramente quando tudo estiver na balança. Motores que funcionam 24 horas por dias, 7 dias por semana, podem gastar em energia elétrica em menos de 3 meses, um valor superior ao seu custo de aquisição. Os impactos de se implementar um motor de alto rendimento em situações assim em comparação à motores antigos e recondicionados pode ser muito grande.

 

Geral

Algumas considerações gerais que valem ser avaliadas na hora de pensar em economizar energia elétrica na indústria:

  • Para todos os sistemas descritos acima, o correto dimensionamento tem de ocorrer sempre. Superdimensionar acima dos fatores de segurança necessários para “garantir” que não irão ocorrer problemas, é um problema por si só.
  • O parque industrial é antigo no Brasil e temos muitos equipamentos que devem ser renovados. As melhorias tecnológicas dos equipamentos em relação à sua alta necessidade em processos produtivos formam a perfeita situação para um estudo de substituição de equipamentos antigos.
  • Automação de sistemas pode trazer um grande impacto para as contas de energia. Só os inversores de frequência (que regulam as velocidades de motores de maneira otimizada) já podem trazer grandes impactos.
  • Possuir um sistema de gestão de energia é uma obrigação para empresas que possuem energia elétrica como um de seus principais insumos e custos no final do mês. Eles podem sem dúvida lhe auxiliar a identificar quais desses setores (e muitos outros) é o responsável pelos maiores gastos e por onde começar as melhores ações de melhorias para economia de energia. É isso que fazemos aqui na CUBi, se quiser ver mais do nosso trabalho, clique AQUI.
  • A avaliação das contas de energia também é importante. O mercado livre é muitas vezes uma alternativa que vale ser estudada.
  • Os gasto com horários de ponta (que mudam conforme a distribuidora) sempre devem ser avaliados com cuidado. Algumas vezes, é mais interessante alterar os turnos da planta ou buscar outras matrizes de energia para esses períodos (que são sempre mais custosos que horários fora de ponta).
  • Cuidado com os achismos. Na maioria dos casos, os responsáveis acreditam conhecer os equipamentos que mais consomem energia e que refletem em maiores gastos, mas muitas vezes o palpite está bastante fora da realidade. Um auditoria energética ou monitoramento são boas maneiras de se fazer essa avaliação tão importante.
  • Melhorias comportamentais e capacitação de colaboradores em relação ao tema pode trazer resultados maiores do que se espera.
  • Para aqueles que têm problemas de recursos para executar projetos de melhoria em eficiência energética, vale sempre conhecer o trabalho das ESCOS que estudam, planejam, projetam e até investem o valor necessário para projetos do tipo. Outra alternativa são os recursos disponibilizados pelas distribuidoras de energia que são obrigadas a investir parte de sua receita em projetos de eficiência energética.

Em suma, podemos ver que as oportunidades de melhorias são bastante extensas e as possibilidades de se economizar energia elétrica na indústria são reais e diversas. Se você tem interesse no tema, mas não sabe por onde começar, nosso sistema provavelmente pode ajudar a identificar as oportunidades que devem ser atacadas. Se sua necessidade for algo pontual e já conhecida, nós com certeza conseguimos lhe indicar um parceiro qualificado.

Rafael Turella

Engenheiro ambiental pela UNESP e mestre em Sistemas Sustentáveis com ênfase em Energia pelo Rochester Institute of Technology. É co-fundador da CUBi e atualmente responsável pela área de marketing e vendas.

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