Quando o assunto é economizar energia, é comum se deparar com uma porção de “receitas” que acabam ficando fora do alcance da maioria ou que não se aplicam à sua operação em específico. Aqui, apesar de algumas dicas se aplicarem à outras indústrias, vamos falar especificamente de práticas que já tivemos experiência no dia-a-dia na gestão energética da indústria de transformação de plásticos. Então, se você trabalha nessa indústria, segure firme que os próximos pontos podem ser bem úteis!

Onde estão as oportunidades de gestão energética na indústria de plásticos?
Um estudo britânico mostrou que em indústrias de transformação de plásticos onde pouca ou nenhuma ação de eficiência foi tomada, o potencial de reduzir o consumo elétrico soma, em média, 30% do consumo total. Esses 30% de economia tipicamente podem ser separados em:
- 10% de economia vem de ações de gestão que custam, em média, menos de R$ 7.000,00;
- Outros 10% de economia vem de ações de manutenção que custam, em média, menos de R$ 7.000,00;
- Os últimos 10% de economia podem ser acessados com investimentos maiores do que R$ 7.000,00.

Para encontrar essas oportunidades você vai precisar preferencialmente de um sistema de gestão energética, que inclusive já detalhamos neste post aqui (link). Desenvolver uma política energética da empresa, estabelecer metas e utilizar sistemas de controle para coletar dados são etapas importantes e que transformam ações pontuais em processos sistemáticos.
Mas aqui vamos tentar falar ainda mais especificamente para a indústria de plásticos, vamos aos pontos.

1. Construir uma linha de performance característica
Essa linha vai te ajudar a entender o modo com que você consome energia e pode ser aplicada em diversos níveis de detalhe, desde o consumo da fábrica toda até de linhas específicas.

Comece pelo mais fácil, o consumo mensal da fábrica toda. Colete 12 meses de informação sobre o consumo elétrico em kWh e também a produção em kg da fábrica inteira e plote conforme a figura abaixo:

A linha de tendência vai dizer muito sobre sua operação. No exemplo acima temos a linha de tendência representada pela equação:

Que é a mesma coisa que entender:


Podemos tirar duas informações relevantes dessa equação:
Demanda base: é o número que se soma no final da da equação e representa o consumo em kWh quando a produção é zero. No caso do exemplo, fica em 701.904 kWh. Esse valor representa tipicamente entre 20 e 40% do consumo total. Se o seu valor for maior do que 40% do total, isso significa que sua operação não está se tornando mais eficiente à medida que a produção aumenta. Em geral busca-se reduzir ao máximo a demanda base, afinal de contas, esse valor é um verdadeiro peso morto na sua operação.
Consumo específico: é o número que se multiplica pela quantidade produzida na equação. No caso do nosso exemplo ele é 1,44 kWh/kg. Esta também é uma métrica para controlar e quanto menor melhor. Este valor vai depender muito do tipo de processo que está operacionalizando, (e temos um post específico sobre esse tema, aqui) mas nós podemos te dar uma noção dos valores típicos de mercado, veja a tabela abaixo.

2. Construa orçamentos de energia anual e acompanhe
Com a linha de performance ajustada para sua operação, uma das práticas que vemos com muita frequência é a construção de orçamentos baseados nela. Normalmente as indústrias já conseguem prever em um horizonte de um ano qual deve ser sua meta de produção mensal. Com a linha de performance fica fácil prever o consumo de energia nesses meses e se aplicarmos uma tarifa média já teremos o orçamento de energia pronto.
Nesse tipo de controle é possível orçamentar com uma base segura de cálculos de controle simples e que ainda assim são confiáveis. Indústrias que utilizam um controle desse tipo reportam, por exemplo, que tem mais facilidade para entender as razões pela qual estão performando melhor ou pior do que o planejado e atuar em ações corretivas.
Esse orçamento também vai te ajudar quando precisar mensurar o ganho de eficiência operacional por conta de ações implementadas na operação, por exemplo. Com essa análise em mãos fica simples isolar os fatores que influenciam no consumo, por exemplo separar o que foi uma redução de produção e o que foi uma redução no consumo de energia. A partir daí você consegue defender parte do orçamento economizado para ser atribuído à mais ações de eficiência energética/operacional por exemplo.
Como essa prática envolve mais números e eu não quero ficar aqui te enchendo de equações, preparamos uma planilha bem prática que vai te ajudar a implementar isso na sua operação. O link está no final deste artigo!
3. Monitoramento e estabelecimento de metas
Com a linha característica de performance e orçamento definidos é hora de escolher métricas, estabelecer metas e definir pessoas diretamente responsáveis pelo atingimento dessas metas. Já escrevemos bastante sobre metas e métricas aqui e aqui. O ponto fundamental sobre métricas e indicadores é que o responsável por sua gestão e acompanhamento entenda exatamente como o número se comporta e quais são os fatores que influenciam.
Diferentemente das últimas vezes que falamos sobre métricas e indicadores, como prometido, dessa vez vamos te entregar uma sugestão de solução na prática. Deixamos um exemplo de método estatístico chamado CUSUM para acompanhamento e definição de gatilhos de ação necessária. Este é um método muito utilizado por empresas que já passaram por um treinamento em six sigma e é relativamente comum em controle de qualidade. Em geral, o método indica quando uma possível ação é necessária para manter a métrica dentro dos limites definidos (metas). A planilha no final desse post vai detalhar o uso desse método.
Por último, casos de sucesso sempre têm uma estrutura bem definida de apresentação de resultados e controle das metas, indicadores e métricas. Em geral, encontramos os seguintes pontos em comum à todos os casos de sucesso:
- Report tem uma frequência mensal ou menor;
- A apresentação de dados é simplificada e direta;
- Esse report sempre é focado em melhorias de performance real.
4. Entenda para onde vai sua energia e como ela é faturada
Essa característica também é transversal nas melhores indústrias de plásticos. Todos os gestores que lidam com energia precisam saber ler uma fatura de energia. Esse conteúdo aqui é o que indicamos com o mais básico para se aprender (Entenda sua conta). Parece simples mas aquele documento é recheado de termos técnicos, jargões e mais um monte de dados misturados que realmente até para quem trabalha só com isso às vezes é difícil de entender. Para ser prático, as ações que mais vimos em indústrias de alta performance foram:
- Entendimento completo de todos os campos da fatura;
- Verificação cruzada dos dados da fatura todos os meses (erros da concessionária não são tão raros);
- Digite ou contrate um serviço para logar todos os dados das faturas de forma organizada e visual; (outro conteúdo sobre as oportunidades nesta etapa)
- Verifique os dados de medição da fatura com os dados de sub-medição interna se houver;
- Saiba exatamente onde a energia está sendo consumida na sua fábrica, se necessário monte um “mapa de consumo energético”.

Está curtindo a série de conteúdos sobre gestão energética e eficiência energética na indústria de plásticos? Tem mais por vir! Nos próximos artigos vamos sair do campo de gestão e entrar mais em assuntos operacionais e técnicos, vamos falar diretamente daquele seu problema com aquela injetora, extrusora ou setor de utilidades!
Tem alguma dúvida? Entre em contato e vamos bater um papo!

Um pouco mais de conteúdo e material sobre gestão energética na indústria de plásticos
Este artigo é continuação de uma série focada em gestão de energia no universo de transformação de plásticos. Você encontra as outras partes:
Parte 1: Energia no processo da indústria de plásticos, qual a importância?
Parte 2: Consumo energético na produção de plásticos, de onde vem?