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Demanda e Consumo de energia, qual a diferença?

Entra mês e sai mês, as operações da empresa seguem crescendo rapidamente, mas tem uma coisa que nunca deixou de fazer parte das nossas conversas com o mercado; explicar a diferença entre demanda e consumo de energia para os gestores e donos de empresas. Vou dizer que depois de alguns anos atuando intensivamente no mercado, é uma dúvida totalmente justa e o desconhecimento no tema é crítico, porque impacta diretamente na compreensão de um contrato/conta de energia.

Se você é um(a) dono(a) de empresa, gestor(a), analista, estagiário(a) ou o que seja, e se encontra na situação de que alguém da empresa (ou você mesmo) levantou a preocupação com os gastos de energia no final do mês e agora é necessário responder a pergunta: “Por que essa conta de energia está tão alta?“, bem vindo ao time de boa parte dos gestores no Brasil, e fique tranquilo, você não está sozinho.

Meme GIF do Gestor de Energia
Gestor: “Conta de energia chegou, deixa eu dar uma olhada aqui…vish….” 

As faturas de energia no Brasil são muito complexas e variadas. Para quem não conhece ou não possui ativos em mais de uma localidade, saiba que cada distribuidora de energia tem seu próprio modelo e estrutura, o que dificulta muito nosso trabalho se resolvêssemos explicar como que cada modelo funciona. Mas normalmente, a primeira coisa – e talvez o item mais importante para compor a base do entendimento – é a diferença entre demanda e consumo de energia.

Só para ficar claro, essa distinção, entre consumo e demanda é válida e útil na hora de avaliar qualquer elemento que utilize energia, seja ele a empresa como um todo ou as máquinas dentro dela. A confusão dos termos pode levar algumas pessoas a realizar investimentos desnecessários ou mal pensados. Achamos que era justo escrever sobre o tema, pois hoje, se jogar essa dúvida no google, os resultados apresentados são todos links das próprias distribuidoras e as explicações são tão difíceis de entender quanto as próprias faturas.

O que é demanda (kW)?

O termo demanda que o mercado sempre utiliza é referente à demanda de potência, que tem como unidades mais comuns o kW (quilowatt) e o MW (megawatt). Se você vir kW ou MW, a conversa é sobre demanda de potência.

A definição de demanda é: a média das potências elétricas instantâneas, integralizadas em intervalos de tempo de 15 em 15 minutos. Dureza, mas vamos tentar traduzir isso em uma linguagem mais simples e com um cenário da empresa.

Imagine que existam 10 motores e 100 lâmpadas dentro do seu galpão. Todos estes elementos possuem sua própria potência, que pode ser verificada inclusive na etiqueta em cada um deles. Se ligarmos tudo ao mesmo tempo, estaremos DEMANDANDO uma potência que teoricamente é a soma de todas as potências. O medidor da distribuidora irá registrar a cada instante essa medida de potência demandada e quando fechar um ciclo de 15 minutos (que é o padrão nacional de intervalo desse tempo), eles irão tirar um média dos valores registrados dentro desse pequeno período, de 15 minutos.

Eu já volto nesse tema para falar sobre a demanda contratada e como que ela aparece na conta, aguentem aí.

O que é consumo energético (kWh)?

A demanda é algo que normalmente dá mais trabalho para explicar, porque não é o entendimento comum que as pessoas têm quando a conversa é energia. Já o consumo sim. 

O consumo de energia nada mais é que a demanda explicada acima durante um intervalo de tempo, e diferentemente da demanda, o consumo é algo que iremos acumular com o passar do tempo. Um bom paralelo é a água. Se usarmos 100 L de água em um mês, pagaremos pelos 100 litros consumidos. A energia é igual, se usarmos 100 kWh no mês, iremos pagar por esses 100 kWh consumidos. 

Tenho que deixar o toque aqui para quem não sabe o que significa kWh. A unidade tempo está na parte de cima da unidade, DE CIMA. kWh (quilo-watt hora). Não é kW/h, um dos erros mais comuns, se der uma outra passeada aí no google, vão encontrar muitos e muitos sites e notícias cometendo esse erro.

E como que é composta a conta de energia?

Agora que entra o principal motivo de saber a diferença entre esses dois termos. Para faturas de baixa tensão (grupo B), pequenos comércios, varejos, residências, etc, a fatura possui apenas a tarifação do CONSUMO. Então só se paga pelo volume de energia (kWh) utilizado.

O jogo fica mais complicado para o pessoal do grupo A, de média e alta tensão. Se você não sabe nem em qual dos grupos sua instalação está, basta procurar no cabeçalho da fatura de energia. Avaliar se possuem uma subestação ou cabine primária é um jeito também: apenas as empresas de média e alta tensão precisam de algo do tipo. Para o pessoal do grupo A, além de pagar pela energia consumida em kWh (igual o pessoal do grupo B), também existe a parcela da demanda contratada. Nós já falamos dela aqui no blog, neste post, mas acho que não custa explicar algumas coisas novamente.

A demanda contratada é um acordo entre a sua empresa e a distribuidora de energia, e ele define o quanto de DEMANDA DE POTÊNCIA a empresa necessita para seu pleno funcionamento. Essa quantidade de demanda é chamada de demanda contratada. Vale notar que a demanda contratada é um valor de certa forma fixo, sendo que a sua empresa pode atingir uma demanda maior ou menor do que a contratada. Se for menor, você paga a contratada. Se for maior, você paga uma multa em cima. Se ficou curioso do motivo de ser assim, visita o post do link que coloquei ali em cima.

Assim como sempre gostamos de fazer por aqui, vou tentar explicar o tema da maneira mais simples possível e usando exemplos que todos podem reconhecer. Um dos que mais gosto é do caminhão de carga.

Imagine que sua empresa precisa de areia todo dia. Para isso, contrata um caminhão de carga para o transporte diário. Você contrata um caminhão que tem uma capacidade de 5 toneladas e é sempre este que estará disponível no contrato. Ele vai fazer várias viagens por dia, transportando toneladas e mais toneladas de areia. Algumas vezes, ele vai com mais areia outras com menos (mas nunca deve ultrapassar as 5 toneladas que é capacidade máxima, pois se o fizer, será pego na balança e vai pagar uma multa considerável).

O contrato de energia funciona da mesma forma:

  • Demanda contratada = contrato do caminhão com capacidade de 5 toneladas;
  • Consumo = a quantidade TOTAL de areia que ele transporta para você todos os meses.
Meme GIF Contrato de Energia
Agora tudo faz sentido!! (eu espero)

Alguns pontos importantes: 

  • Você vai pagar o contrato de aluguel do caminhão mesmo não usando todos os dias ou usando toda a sua capacidade = você vai pagar a demanda contratada, tendo utilizado ela ou não.
  • Se por algum motivo, em uma única viagem durante o mês inteiro, o caminhão carregar mais do que 5 toneladas, será cobrada uma multa pelo período inteiro = se você atingir uma demanda maior do que a demanda contratada, a empresa irá pagar uma multa, chamada de ultrapassagem de demanda.
  • No final do mês você irá pagar por todas as toneladas (o volume) de areia que foi transportado = no final do mês você irá pagar por todo o volume de energia que foi consumido (kWh).
Meme GIF Ultrapassagem da Demanda
Cuidado que a ultrapassagem da demanda, vai doer no bolso!

Agora que você já sabe a diferença entre demanda e consumo de energia:

Espero que esse texto cheio de exemplos possa ajudar a todos aqueles e aquelas que estão precisando de um empurrãozinho para entender a complexidade das faturas de energia. Existem muitos outros elementos que impactam em uma fatura, mas acho que começar por estes dois é o essencial, sem entendê-los, não dá pra falar sobre o resto.

Aprender sobre esses elementos e aplicar o conhecimento na prática pode trazer alguns resultados bem legais logo de cara. A CUBi está forrada de exemplos de empresas que ao sentir suas faturas aumentando, tentaram várias ações internas que julgavam válidas e não alcançaram resultados, para só depois de nos procurar e começar a trabalhar conosco, descobrirem que os problemas eram mais de contratação ou de uso muito específico e que pequenas mudanças com baixo esforço poderiam ter impactos muito maiores do que estavam tentando.

Case de Sucesso - Itograss

Existem várias maneiras de se aproveitar das informações que comentei acima, seja na hora de fazer uma melhor gestão das fatura de energia ou mesmo na hora de decidir por um sistema de monitoramento para gestão de energia. Honestamente, a gestão da fatura é obrigação, ainda mais para empresas com vários ativos. É algo simples, muito barato pelo retorno que traz é facílimo de implementar. Se esse tema lhe interessar, sugiro ler esse conteúdo aqui: gestão de faturas e suas oportunidades.

Para empresas que possuem um ativo com faturas mensais acima de R$ 20.000,00 é mais do que necessário realizar um monitoramento da entrada de energia. É algo também muito simples que eu garanto que não vai trazer um impacto financeiro no orçamento, estamos falando de menos de 1% do valor da fatura de energia em um sistema de controle que pode transformar o imaterial de uma fatura de energia, em algo real, útil para a tomada de decisão. Para o pessoal que gere ativos acima de R$ 100,000.00/mês, existem muitas outras ferramentas de monitoramento que valem a pena vir pra mesa, também com investimento pequenos em relação ao retorno potencial que trazem. 

Energia elétrica não precisa ser apenas uma pedra no sapato todos os meses ou um boleto a ser pago com gosto amargo na boca. Ela é um insumo importantíssimo de qualquer empresa e merece ser olhada com cuidado. Pode ter certeza: seus pares e concorrentes já o estão fazendo. Tem muita empresa colhendo frutos no tema enquanto outras estão jogando dinheiro no ralo todos os meses por conta do desconhecimento no tema, então agora que sabe a diferença entre demanda e consumo de energia, talvez seja hora de começar a se mover.

Rafael Turella

Engenheiro ambiental pela UNESP e mestre em Sistemas Sustentáveis com ênfase em Energia pelo Rochester Institute of Technology. É co-fundador da CUBi e atualmente responsável pela área de marketing e vendas.

10 comentários em “Demanda e Consumo de energia, qual a diferença?”

  1. Excelente artigo! Realmente ainda tem muita gente que confunde estes conceitos. A analogia do caminhão e da carga de areia, que o texto sugere, foi excelente e certamente ajuda a “visualizar” o tema. Parabéns!

  2. Suas explicações e explanações são excelentes e esclarecedoras, mas tenho uma dúvida:
    Tenho uma demanda contratada de 43 kW.
    Na fatura de energia vem medida demanda máxima na ponta de 32,40 kW e demanda máxima fora da ponta de 30,62 kW. Como saber a demanda não utilizada se não contratei demanda fora da ponta? Apenas contratei demanda de 43 kW. A minha dúvida: existe no caso demanda de ultrapassagem? E qual é o total de demanda utilizada no caso? Agradeço imensamente se me for esclarecido Obrigado.

    1. Tudo bem Lourisval?
      Se você está no esquema tarifário VERDE (que imagino ser o caso), o custo da contratação de demanda é o mesmo, seja na ponta ou fora dela não existe distinção. Nesse caso, será considerado sempre o valor mais alto da demanda medida/registrada entre as duas como o máximo do seu mês. Existe sim demanda de ultrapassagem e ela será baseada em cima do valor mais alto registrado no mês(independente se for na ponta ou fora da ponta).

      Uma dica: mesmo que não exista distinção de valor nos horários da demanda, você pode usar esses valores registrados para avaliar seu processo de forma superficial. O fato de ter uma demanda mais alta no horário de ponta do que fora dela, já levanta a questão que talvez esteja rodando processos mais pesados em um horário mais custoso do dia(agora falando de consumo), mas usando esses valores de demanda para auxiliar na análise. Faz sentido? Idealmente, um sistema de monitoramento simples na sua entrada de energia faria essa análise facilmente, mas se esse não é um caminho que pretende seguir, vale tentar usar esses pequenos detalhes da fatura para melhorar a gestão. Se tiver alguma outra dúvida ou quiser entender um pouco mais dessa opção que comentei, manda um e-mail pra gente no contato@cubienergia.com citando seu nome que o pessoal me encaminha e nós conversamos.

      Espero ter respondido! Obrigado por acompanhar nosso conteúdo.

  3. Rafael;
    Boa Tarde;
    Minha dúvida quando analiso uma conta de energia, com estas informações, sendo a Demanda Contratada de 30,0 kW, dentro do período de teste:
    Demanda 47,9 = R$ 3.044,20
    Demanda de ultrapassagem 17,9 = R$ 2.275,21
    Consumo 24.570 = R$ 5.969,05.
    Minha pergunta é:
    No período de teste, sou obrigado a pagar demanda + demanda de ultrapassagem?
    5 – Neste período de teste, não deveria pagar somente a demanda devida??

    Desde já agradeço sua atenção.
    Glauber Ribeiro
    1 – No período de teste, sou obrigado a pagar a Demanda

    1. Olá Glauber! Tudo bem? Sim, no período de teste a demanda de ultrapassagem deve ser faturada normalmente. A única diferença pe que você pode mudar a demanda respeitando os limites definidos na resolução nesses meses de teste.
      Abs

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