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Economizar Energia na Indústria em 3 Passos

É comum escutar por aí que economizar energia na indústria é uma das melhores oportunidades de redução de custo e melhoria operacional que uma indústria pode ter. E é verdade. No entanto pouco se fala sobre como fazer. Quais os passos? Quais são os caminhos que não devemos tomar? Onde estão os principais riscos? Com quem falamos? Como convencer meus líderes que um projeto de eficiência energética deve ser priorizado? Como traduzir para os acionistas que eficiência energética é o melhor investimento e trará o maior retorno?

Responder todas essas questões é fundamental para o sucesso de qualquer esforço no sentido da melhoria da gestão energética dentro de uma indústria e hora de economizar energia na indústria. Neste artigo consolidaremos a experiência de 32 profissionais de eficiência energética que atuam dentro da indústria, varejo e gestão de ativos no Brasil somando mais de 256 anos de experiência no total. A informação reunida aqui é fundamentalmente diferente da que se encontra em manuais e normas simplesmente pelo fato de ser obtida pela experiência profissional, erros e acertos de pessoas de carne e osso, trabalhando em indústrias brasileiras e que devem sofrer com problemas muito semelhantes aos seus.

Depois de mais de 109 horas de entrevistas com profissionais sênior do setor, eles nos revelaram os principais problemas de seu dia-a-dia e nos deram insights sobre como superaram esses desafios. Seguindo nossa filosofia de compartilhamento de dados, vamos dividir esse conhecimento com nossa base de seguidores. E para facilitar, agregamos em três grandes grupos de orientação

1 | Meça energia de forma coerente

Uma das situações mais relatadas foi a medição de energia incorreta. Não incorreta no sentido de que a concessionária está medindo incorretamente, queremos dizer que a própria a indústria está contabilizando incorretamente. Podemos subdividir em alguns pontos:

  • Em geral, não se sabe o quanto de energia cada unidade produzida, vendida ou m2 (no caso de lajes) consome. Isso costuma gerar erros enormes tanto na precificação dos produtos quanto na priorização de investimentos. Por isso é fundamental que exista uma integração entre os dados de consumo de energia e seu negócio-chave. Se você produz pregos ou se você produz lanches, deve saber quanto de energia você consome para disponibilizar aquela unidade de prego ou de lanche para venda;
  • A base do convencimento tanto de líderes quanto de acionistas é fundamentalmente alicerçada em dados. Para isso é necessário que se meça os consumos de energia de forma confiável. E, apesar de necessário, medir está longe de ser suficiente. Além de medição, é essencial que se analise os dados considerando dados produtivos (primeiro item), métricas econômicas e variáveis de sua realidade de fornecimento energético;
  • Por último, fique atento aos volumes de controle. Instalações elétricas podem ser confusas. Um circuito que deveria medir apenas um setor pode estar medindo aquele setor e mais três outras máquinas diferentes depois daquele retrofit que os eletricistas “puxaram” energia de um painel sem que isso fosse devidamente documentado. Além disso, muitas vezes é suficiente que se meça apenas a entrada de energia da concessionária, em outras a submedição setorial ou por máquinas é necessária. Avalie o que está mais aderente ao seu objetivo.

2 | Sempre comece pelo mais fácil

Outra situação de erro relatada por literalmente 100% dos entrevistados é querer começar já com projetos complexos. Segundo eles é importante provar o valor da gestão energética com projetos menores, muitas vezes apenas com custos de horas trabalhadas, outras vezes com investimentos quase irrelevantes. Dessa forma justifica-se primeiro o potencial da ferramenta e conceito de gestão energética e depois se pleiteiam investimentos maiores que talvez sejam necessários para destravar gatilhos de melhorias operacionais mais relevantes. Existem algumas formas de fazer isso, todas serão trocas entre qualidade e tempo vs. custo. As mais comuns são:

  • Capacitar equipes internas para fazer o trabalho que consultorias fariam. Além de gastar menos, incorpora-se melhor o conhecimento dentro da organização;
  • Iniciar a contabilidade energética por um inventário de máquinas (Clique aqui para uma planilha de inventário);
  • Iniciar contabilidade energética pela medição do próprio medidor da concessionária/fornecedora de energia. Através do uso de sistemas específicos, é possível extrair dados muito mais qualificados que somente a fatura mensal de energia e tem um custo baixo em relação a medição setorial;
  • Analisar detalhadamente a fatura de energia para entender o custo efetivo da energia, limites de demanda contratada, comportamento de seu fator de potência e etc (artigos de Fator de Potência e Fator de Carga);
  • Algumas economias podem parecer pequenas mas se somadas podem se tornar relevantes. Por exemplo a reconfiguração de máquinas e o desligamento de equipamentos em stand-by são ações simples com custo baixíssimo e que tem um potencial grande de economia por R$ investido.

3 | Depois do diagnóstico, procure por soluções

As dicas anteriores basicamente cuidam de diagnosticar a situação das oportunidades que você tem a disposição. Agora é hora de agir. Os especialistas recomendam a capacitação no tema. Independente se pretende ou não contratar uma empresa especializada é fundamental que se tenha conhecimento interno sobre alguns parâmetros técnicos como os que estão demonstrados na sua fatura de energia (nosso artigo sobre contas de energia, AQUI). Dessa forma o retorno no investimento é quase garantido. As soluções mais recomendadas foram:

  • Se você tem grandes problemas que inevitavelmente envolvem investimentos muito altos para destravar, considere procurar uma ESCO (nosso artigo sobre ESCOs AQUI.). Essas empresas são especializadas em diagnosticar, implementar e acompanhar ações de eficiência energética. Além disso buscam recursos financeiros fora da empresa e dividem os riscos do projeto com você. Tenha atenção para as métricas predeterminadas de performance do contrato que assinarão;
  • Se você já conseguiu identificar seu problema no diagnóstico, ótimo! Você economizou um belo montante. Procure por empresas já focadas na solução que precisa. Por exemplo a WEG faz motores muito eficientes e inclusive pode financiar parte da troca de seu parque de máquinas se for grande o suficiente. Ou se seu problema for fator de potência e não houver soluções a nível de processo, você certamente deve procurar empresas especializadas em bancos de capacitores. O mesmo vale para filtros de harmônicas;
  • Não se limite a soluções técnicas. Muitas vezes uma solução mais inovadora pode guardar muita economia. Por exemplo, em modelos de negócio com fornecedores e a tendência de “servitização” (produtos como serviços) pode auxiliá-lo a terceirizar a obrigação de ser eficiente energeticamente e também reduzir custos de manutenção.

E você, acha que faltou algo nessa lista? Conta pra gente nos comentários.

Ricardo Dias

Engenheiro ambiental e urbano pela UFABC e mestre em Sistemas Sustentáveis com ênfase em Energia pelo Rochester Institute of Technology. É co-fundador da CUBi e atualmente CEO.

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