Se você lida ou lidou com gestão de energia em algum momento da sua vida, provavelmente já deve ter ouvido o termo “Consumo específico”. Ele é um indicador de eficiência energética muito utilizado dentro das indústrias do país e se diferencia um pouco do termo Intensidade Energética, termo mais usado nas questões governamentais e sustentáveis dos países, como forma de dissociar o consumo de energia com o crescimento econômico, já que, na teoria, quanto mais um país cresce, maior é o seu gasto energético. Claro que isso nem sempre é verdade, porque um crescimento sustentável precisa de políticas que diminuam, ou pelo menos mantenham estável, o consumo de energia. Caso queira se aprofundar no tema de intensidade energética, sugiro esse outro conteúdo aqui: Intensidade Energética.
Mas, um ponto importante para entendermos o porquê de falarmos sobre ambos termos, é pela sua relação com a Eficiência Energética. Os dois termos estão envolvidos com a capacidade de realizar o mesmo, ou até mais, com menos energia. E se você não pegou a importância disso, temos um artigo só falando sobre Eficiência Energética aqui.

Mas antes de tudo, o que é Consumo Específico?
Consumo específico é um indicador que mede a eficiência entre o consumo de energia e a unidade de produção gerada. Essa unidade normalmente é representada por uma unidade de produção, como a tonelada de um produto (ou seja, quanto é gasto de energia para produzir uma tonelada). Bastante comum vermos outros como

Olhando a fórmula acima, dá para perceber que quanto menor é o Consumo Específico, melhor é a situação, e por isso que, uma alta deste indicador pode indicar uma baixa eficiência no processo – detalhe ao “pode indicar” porque também é importante analisar o modelo de produção da unidade de produto.
Enquanto o Consumo Específico de Energia é mais comumente usado dentro das indústrias com processos de produção mais homogêneos, como o cimento, ferro gusa e aço, ferro ligas, não-ferrosos e de papel e celulose, a Intensidade Energética é mais utilizada na economia global. Nesse lado, é usada a Oferta Interna de Energia (OIE), que representa o consumo total de energia de todos os setores da economia, incluindo o consumo próprio do setor energético e as perdas nos processos de transformação, transmissão, distribuição e armazenagem. Além disso, como unidade de produto, é usado o Produto Interno Bruto (PIB), que representa a renda total gerada de um local em um determinado período de tempo. Por isso que, quanto menor for a relação entre o OIE e o PIB, melhor é a Intensidade Energética daquele país.
Relação com Eficiência Energética
Agora que entendemos a definição, podemos voltar a relação à Eficiência Energética. Para mostrar, vou colocar três situações, e para exemplificar, vou usar a unidade gerada como a produção de uma indústria:
- Mesmo consumo de energia, mas maior quantidade produzida
- Mesma quantidade produzida, mas menor consumo de energia
- Maior consumo de energia e maior quantidade produzida, mas o último em maior proporção
Deu para perceber a Eficiência Energética nas três situações? Em todas, o baixo consumo específico significou a alta da Eficiência Energética. De forma geral, isto é verdade: uma redução em intensidade indica ganhos em Eficiência. Porém, não podemos analisar somente produção e consumo de energia, precisamos também entender o processo produtivo a fundo, com suas especificações, e onde e quando a energia está sendo mais usada.

E como usar um indicador de Consumo Específico na minha empresa?
Para responder essa pergunta, preciso fazer uma outra antes: vocês estão monitorando o consumo de energia? E quando digo “monitorando”, é observando o consumo frequentemente e entendendo de onde veio esse consumo. Esse é o ponto chave para saber onde temos que melhorar e comparar os resultados ao longo do tempo.
Por isso que, dependendo do nível de maturidade energética da sua empresa, a complexidade do monitoramento pode variar:
- Se hoje vocês só olham a conta de energia que chega no fim do mês, um bom começo é pegar a fatura e ver quantos kWh ou MWh foram consumidos. A partir daí, pegue os seus dados de produção ou de faturamento, e faça a conta. Você vai ter uma fotografia desse indicador naquele mês.
- Agora se na sua empresa já acontece um monitoramento do consumo para gestão, o ideal é conseguir setorizar cada vez mais as medições, para que consiga separar equipamentos ou linhas de produção mais pesadas. É com esse passo que se torna possível identificar os diferentes consumos específicos de diferentes produtos ou processos produtivos, aumentando a qualidade da análise ao mesmo tempo que a complexidade também aumenta.
Mas independente do cenário, é importante que essas informações sejam agrupadas ao longo do tempo, e analisadas com calma, para entender os motivos das altas e baixas do indicador. Além disso, as mudanças e melhorias dos processos internos precisam estar integradas ao indicador, para que os resultados obtidos não sejam mal interpretados. Isso é imprescindível se você quer que sua empresa tenha uma forte cultura de testes alinhada à melhoria contínua.